O que feminismo tem a ver com finanças?

O que feminismo tem a ver com finanças?

Ana Helena Passos[1]

Lia Mendes[2]

Sempre escutamos por aí que mulheres não gostam de números. Será que é verdade que nós realmente não gostamos de matemática, não somos boas com algoritmos e cifras e estamos fadadas a consumir futilidades?

Bem, essa história é tão difundida,  existe uma recorrência tão grande em repetir que nós, mulheres, não sabemos lidar com finanças que até parece uma realidade, apesar de toda uma história de bisavós e avós que, muitas vezes, fizeram milagres com orçamentos domésticos reduzidos, ou quando lideramos o orçamento da casa sozinhas, como únicas mantenedoras. Para se ter uma ideia, houve um aumento no número de lares brasileiros chefiados por mulheres, passando de 23% para 40% entre 1995 e 2015, segundo a pesquisa “Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça”, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)[1].

Mas por que existe essa ideia de que a relação entre mulheres e finanças é turbulenta? Uma dos motivos está ligado ao fato de que lidar com o orçamento doméstico tem a ver com a vida privada e não com a  vida pública, onde está o trabalho que é considerado real, aquele que gera um salário. Se formos remexer o baú das histórias sobre nós, homens e mulheres, e o mundo do trabalho, vamos encontrar várias nas quais nós, mulheres, ficamos restritas à casa, ao doméstico, e esse lugar não é valorizado como é o lugar público, do trabalho. Assim, tem-se a ideia de que o que nós conhecemos sobre inflação é o que pesa no bolso quando está na feira ou no supermercado, ou então somos tachadas de consumidoras compulsivas que não podem ver uma promoção e compram muito mais do precisam. Vocês concordam com isso?

Nós não. Vocês sabiam que 58% dos pais conversam com os garotos sobre finanças, contra 50% das meninas, de acordo com uma pesquisa feita nos EUA pela empresa T. Rowe Price? Ou seja, desde cedo, as meninas são consideradas não aptas para lidar com finanças, não sendo estimuladas a pensar sobre isso. Em contrapartida, o que nos deixa muito animadas é saber que, para muitos consultores financeiros, estatisticamente falando, as mulheres fazem melhor gestão do dinheiro, pois possuem o hábito de pesquisar mais e de avaliar o risco com mais conservadorismo, o que as impedem também de arriscar mais e, por isso, acabam lucrando de forma mais consistente.

Diante disso, vemos que temos uma longa história de pouco estímulo para participar do mundo das finanças, mas , ao mesmo tempo, um entendimento de que podemos gerir recursos tão bem quanto os homens.

Administrar recursos não é algo simples, mas é possível quando há incentivo e vontade de compartilhar conhecimento. Saber usar uma planilha de gastos, calcular se é melhor comprar agora com juros ou esperar para comprar no futuro. Saber o que é juros e como calculá-los. Qual o melhor investimento para o dinheiro que sobrou. Quais as variáveis que compõem o sistema financeiro e quais são as taxas cobradas. Ou qual a melhor prática para sair do endividamento. Se apropriar dessa conversa é empoderar nossa vida e nossas finanças. Isso também é feminismo!

 

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[1] Ana Helena Itthamar Passos é advogada, feminista, mãe e pós-doutoranda no DIVERSITAS/USP. É co-fundadora do Instituto Ella Criações Educativas.

[2] Lia Mendes é estatística e historiadora de mulheres, oscilando entre exatas e humanas sempre em busca de aprendizagem. É pesquisadora colaboradora do Instituto Ella Criações Educativas.

[1] Dados retirados do site: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2017/03/06/numero-de-lares-chefiados-por-mulheres-sobe-de-23-para-40-em-20-anos.ghtml

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