Humanidade! Sejamos mais humanas, humanos e humanes

Humanidade! Sejamos mais humanas, humanos e humanes

Pensar direitos humanos é existir em sociedade. Parece fácil, mas não é. Se juntarmos com educação a brincadeira fica ainda mais difícil. Para isso, antes de pensarmos regras para um bom jogo, precisamos nos questionar sobre o que a educação tem a ver com direitos humanos? Muita coisa! Pois bem, essa é nossa conversa. Se queremos pensar em direitos humanos e educação, precisamos antes de tudo pensar em nossas ações diárias na construção de uma humanidade que respeite as diferenças e entende a igualdade entre as pessoas para que estas possam ter dignidade humana e bem viver.

Se voltamos ao princípio da constituição da sociedade moderna, vamos ter a ideia filosófica de humanismo como sustentáculo dos direitos humanos. O que seria então o humanismo? O humanismo é uma corrente filosófica que enaltece os homens pela sua capacidade de consciência sobre si e sobre a natureza, sua originalidade e sua superioridade em relação aos animais. O humanismo, em sua essência, é a própria existência humana. E, é a partir dessa ideia que a sociedade moderna se funda, em contraponto com sistema civilizatórios arcaicos e dogmáticos, regidos pela força de monárquicos e a fé em Deus como sustento do pensamento humano.  É dessa ideia que vai nascer os direitos humanos, como forma de garantir a dignidade plena desse ser, humano, que pleno de sua liberdade de consciência, pode existir. Assim, para muitos pensadores, o humanismo é a base de um pensamento que tem o interesse em proteger e valorizar a dignidade humana, a liberdade e a igualdade acima das complexidades das relações humanas.

Pois bem, isso tudo nos parece muito belo. Mas, como toda História é, em verdade, um emaranhado de histórias, podemos também pensar que esse conceito de humano não engloba todas os sujeitos humanos.

Há no continente africano um provérbio que diz “ Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores serão sempre os heróis das narrativas de caça”. Em outras palavras, precisamos começar a conhecer a história dos leões porque a história que nos é contada é sempre a história do caçador. Será que nas histórias dos leões, o conjunto de humanos que se beneficia da liberdade e da igualdade pregada pelo humanismo inclui os “humanos mulheres”, ou, as humanas? Inclui, também, os escravizados, muitos destes vistos inclusive como não humanos, quiçá leões?

Mas tanto o direito, quanto a própria sociedade, é feita a partir de incansáveis processos históricos. Assim, muita coisa tem mudado no decorrer do tempo e a própria ideia de direitos humanos, a cada momento da história da sociedade moderna, acrescenta novas dimensões a grandiosidade da proteção da dignidade humana. No início, focada no indivíduo, depois, neste e sua relação com o trabalho, mais a frente, de nossas coletividades e a relação com a natureza e a paz mundial e assim, entre lutas, partilhas, reconhecimentos e negações os enredos da nossa humanidade vão sendo construído.

Nessa ciranda que roda, roda, roda e tenta entrelaçar novos humanos ao grande caldeirão da humanidade muita gente ainda está de fora. Se pensarmos na abissal desigualdade entre os números que diferenciam a morte entre os jovens brancos e negros; se jogarmos luz à diferença salarial entre as mulheres negras e os homens brancos; se focarmos no desigual tratamento oferecido para as mulheres negras no sistema de saúde com relação às brancas, vamos perceber que, quando o humanismo prega ideais de liberdade, igualdade e dignidade, esse pensamento está direcionando ao vasto leque do novo mundo que nascia para um determinado grupo de humanos, que podemos apontar humanos homens, e mais humanos homens e brancos. Ou seja, esse humanismo está marcado por um tempo e direcionado a determinados sujeitos.

Duas décadas correram do século XXI e começamos a pensar que podemos ampliar os enredos da dita História universal e seu humanismo de homens brancos. Se, voltando ao ditado africano, começarmos a escutar histórias outras poderemos ampliar nossa concepção de humanidade. Daí em diante, voltarmos à Declaração de Direitos Humanos para refletirmos, a partir da educação em direitos humanos, princípios de igualdade e respeito às diferenças, ao cuidado e o bem viver de todes e dizer: Somos humanas, humanos e humanes e queremos respeito e dignidade para todas, todos e todes!

E é aqui que se inicia a caminhada do Instituto Ella Criações Educativas. Inspiradas por Chimamanda Adichie, corroboramos com a ideia de que a concepção de uma narrativa única sobre as histórias de tantas sociedades é um perigo e que pode alimentar abissais desigualdades. Nosso empenho, portanto, está na garantia de uma educação que respeite a plena e diversa Humanidade, em que todos sejam contemplados, mas sem perder o norte de que, apesar de humanos, partimos de lugares diferentes e isso não é demérito, é possibilidade de aprendermos conjuntamente a sermos no mundo onde todas, todos e todes tenham seus direitos garantidos com igualdade de oportunidade!

Ana Helena Ithamar Passos

Diretora de Comunicação

Instituto Ella Criações Educativas

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